Cinzeiro 27, 29 de junho de 2024.
Dez dias na Itália
Você, leitor, não sabe, mas passei, acidentalmente, dez dias na Itália. O acidentalmente é assunto para outro texto, mas para daqui uns anos, quando os protagonistas estiverem senis demais para esboçar qualquer reação. Por ora, vamos dizer que foram férias em que não fui o protagonista da iniciativa, sendo levado como quem é arrastado por uma enchente violenta e imprevista.
Cabe também dizer que sou italófilo. Embora os piemonteses ancestrais do meu pai sejam pouco mais de 10% da minha herança genética — e os piemonteses, naquela época, eram mais franceses que italianos, bastando lembrar que Vítor Emanuel II, último rei do Piemonte e, depois, o primeiro da Itália unida, falava francês como língua materna —, algumas situações e convivências me levaram à admiração pela pátria que Garibaldi, Cavour e o já citado Vítor Emanuel formaram às pauladas. E, convenhamos, a península é um mar de história e cultura. Fiz bacharelado em Língua e Literatura Italiana impulsionado por essa vontade. Sou latino: nada do que é italiano me é estranho, adaptando Terêncio.
Isso posto, sigamos. A viagem foi meio goela abaixo, mas fiquei contente de retornar à península depois de dez anos. O meu italiano evoluiu, e eu consegui entender tudo o que me foi dito e até a usar o maldito ne em conversas.
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Passei por Roma, Florença, Pádua e Fiumicino, embora a última estada tenha sido apenas para esperar o avião. Fiumicino é uma Praia Grande mais limpa, sem muita encheção de saco e sem prédios de vinte andares na orla. Aliás, nos caminhos por que passei não se vê prédios altos. Quatro ou cinco andares, no máximo, o que ajuda muito a vista, preservando a linha do horizonte.
Roma era caótica e segue sendo. Eu me lembrava muito dos hotéis fuleiros, muito fuleiros, ao redor da Termini, onde fiquei da última vez. Agora, fiquei num apartamento perto de São João de Latrão, igreja, mas também o palácio pontifício onde foram assinados os famosos Pactos Lateranenses de 1929. Viva o Airbnb, que nos permite fugir dos muquifos romanos. Roma, além do caos natural, tem uma multidão de turistas (quase sempre inconvenientes) e problemas com sinalização: nada é muito intuitivo. Na Termini, para pegar o trem para o aeroporto, há uma indicação para seguir em frente que termina num corredor subterrâneo, perpendicular, sem indicar para qual lado do corredor seguir; a mesma coisa no aeroporto: se desce do trem sem saber para que lado é a saída. Perguntar ajuda em partes: é preciso enfrentar um périplo com orientações pela metade. Mesmo quando dedicados, os romanos são muito reticentes em detalhes; eles deduzem que é fácil andar pela cidade, deduzo. Para chegar a algum lugar, às vezes é preciso pedir informação para duas ou três pessoas no meio do caminho.
E falando na Basílica de São João de Latrão (San Giovanni in Laterano), ela merece uma visita. Negligenciada pelos turistas, acaba sendo um passeio agradável.
Roma faz São Paulo parecer um lugar tranquilo, embora seja menor e menos populosa. As buzinas reinam nas avenidas da cidade eterna. Atravessar a rua é uma tarefa complicada; recomenda-se sempre buscar o semáforo e, mesmo no verde, tomar cuidado com o fluxo. O que realmente tumultua a cidade é a horda de turistas de todos os cantos do mundo. Pude notar, dez anos depois, a queda no número de chineses e o aumento no de indianos. Aliás, quase toda barraquinha de quinquilharias, não só em Roma, se não é de um imigrante indiano, tem um ajudante indiano (indiano aqui na amplitude do Raj britânico, ou seja, pode ser bengalês ou paquistanês; vi um que, pelo turbante, era sikh).
A Roma do turista é o Coliseu, o Fórum Imperial, a Fontana di Trevi e a Praça de São Pedro. Quase ninguém vai a Ostia Antica, por exemplo, a cidade romana mais bem conservada depois de Pompeia. Passar pelas ruelas de areia e cascalho, que hoje parecem decoração de parque, dá uma ideia do que foi a Ostia romana: uma cidade portuária opulenta e cheia de estrangeiros, que contava mesmo com uma sinagoga. Passeio tranquilo e muito recomendado.
Voltando à Roma moderna e caótica: o metrô é de uma sujeira ímpar. Não sujeira no sentido brasileiro, de acúmulo de detritos no chão: parece uma sujeira de mão, de sebo, no chão, nas paredes, mesmo com várias estações revestidas de mármore. Tudo tem aspecto de sujo, sejam as plataformas ou os trens; a poeira de décadas se acumula nos pontos mais altos. O metrô de Roma faz o de São Paulo parecer um centro cirúrgico. Isso quebra um pouco a ideia que temos de Europa, onde tudo é limpo e funciona. Não que o metrô romano não funcione; para todos os meus deslocamentos, ele foi muito útil.
O metrô também é o palco predileto das borseggiatrici, meninas jovens que andam em pequenos grupos, de três ou quatro, e batem a carteira dos desavisados, e não apenas em Roma, mas onde houver turistas. O meu sogro, parte da comitiva de viagem, quase ficou sem a carteira. Parece que a igualdade entre os gêneros chegou com força ao mundo do punguismo. Os trens romanos, além de também terem as suas borseggiatrici, têm pedintes e apresentações musicais não solicitadas. Em compensação, não há a feira livre que existe nos meios ferroviários da capital paulista.
O que se nota na Itália é uma tendência ao estatal ser meio largado, principalmente equipamentos públicos não direcionados unicamente ao turista, enquanto o privado, ou seja, os pequenos prédios de apartamentos, parece ser muito bem cuidado. É uma tendência oposta à nossa, em São Paulo, em que as estações de metrô são bem cuidadas e limpas, mas muitos dos arredores, principalmente nos subúrbios, são assustadoramente feios, sujos e abandonados.
Embora capital, Roma não passa essa aura; não é uma capital persa, como Brasília, que se impõe como tal, mas uma capital orgânica, que se foi fazendo, sede de várias organizações estatais no decorrer da história. Brasília é o sonho megalomaníaco; Roma sobreviveu aos megalomaníacos. A única coincidência entre as cidades é o mesmo dia de fundação: 21 de abril: Roma em 753 a.C., segundo a lenda, e Brasília em 1960, conforme registros da época.
Em Roma há gaivotas e corvos; na Praça de São Pedro, tomei um rasante de uma gaivota, que é bicho extremamente sistemático e raivoso, não se distanciando das outras aves nisso, mas há nelas algo de mais maligno; gritam como se rissem de você. Elas são grandes, têm um bico ameaçador e um olhar malicioso. Me lembro de as ter visto no Brasil também, na Praia Grande e em Santos, mas não na quantidade que há em Roma. Um dos medos que tive foi tomar uma cagada de gaivota; vi uma se esvaziando, e a coisa caiu na rua com um estampido, deixando no chão mancha branca do tamanho de um ovo frito. Os corvos grasnam no final da tarde, o que, no verão, é por volta das oito e meia da noite; é um som diferente. Há também muitos pombos, e a maioria deles tem algum defeito nas patas ou lhe falta uma. Vi muitos pombos manquitolas ou pernetas na Termini.
Os Museus Vaticanos continuam terrivelmente abarrotados e é impossível ver tudo com a calma necessária, o que é uma pena de verdade. A coleção etrusca tem muitos objetos que mereceriam horas e horas de observação e atenção, mas a visita é sempre corrida, como uma maratona. O ponto alto pelo qual os turistas vão até lá é a Capela Sistina, decorada por Michelangelo, mas que, pela segunda vez, me pareceu decepcionante. As fotos ampliam a beleza do lugar; não que seja feia a capela, ou que não mereça a visita, mas existe um detalhe: a arte ali é ornato, e não o motivo principal. A ideia segue sendo a de capela, de templo religioso, então a arte adorna essa ideia e não lhe rouba o protagonismo. A Sistina estava lotada de turistas, e a iluminação parecia insuficiente. Michelangelo fica diminuído.
Em outro pormenor Roma lembra o nosso litoral: a água das torneiras e das fontes (há fontes públicas, na rua) é ligeiramente salobra, mas o que não chega a incomodar, salvo você seja algum tipo odioso de sommelier de água.
Apesar de tudo, a cidade ainda inspira algum tipo de alegria, de vitalidade, de gioia di vivere. Ela é leve no verão, as pessoas saem do metrô e parecem gozar a luz do sol e o calor; há uma felicidade que se espalha. Está justificada Roma capoccia, do Antonello Venditti; ou Nun me rompe er ca’, do Gigi Proietti.
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Florença continua sendo meu lugar predileto no mundo, se bem estivesse bem mais cheia em comparação à minha última estada. A Piazza della Signoria, onde estão o Palazzo Vecchio e o Davi de Michelangelo (a cópia, claro; o original está, há quase século e meio, na Galeria de Belas Artes, a 1 km da praça), onde Savonarola foi queimado (existe uma inscrição no piso, lembrando o fato), continua sendo o centro do meu mundo. É a cidade de Dante, da qual ele foi exilado, mas que tanto lembrou na sua Commedia; é a cidade da língua que aprendi a amar, onde me sinto linguisticamente confortável, mesmo com a gorgia toscana, ou seja, a pronúncia aspirada do c duro, que soa como o j espanhol (carta vira harta, por exemplo). A língua italiana moderna, cujos modelos foram Dante, Petrarca e Boccaccio, é florentina. Ali tudo faz sentido; Roma me é linguisticamente desconfortável, as palavras rolam oleosas da boca dos romanos.
Fiquei num apartamento no quinto e último andar (ou “quarto e meio”, dependendo da contagem) de um prédio antigo, nas proximidades da Casa de Dante. Sem elevador. A Casa de Dante é um museu, instalado num assobradado construído sobre a área onde Dante viveu. Não sei dizer se a visita vale a pena; gostei.
Eu havia reservado um dia para ir a Prato, cidade vizinha, a 30 km, para visitar o túmulo de Curzio Malaparte, mas o trajeto era meio complicado, envolvendo trem e van. Em vez de ir ver Malaparte, morto desde 1957, resolvi flanar por Florença; Malaparte teria aprovado a minha decisão. Desci em direção ao Arno, rio limpo e de águas calmas, passei pelo Ponte Vecchio lotado de turistas e peguei a rua que dá seguimento à ponte até a Porta Romana, no Oltrarno, onde a quantidade de turistas diminui significativamente e se consegue respirar uma cidade muito próxima do habitual. Na volta, achei uma tabacaria e comprei uns charutos toscanos, cuja existência descobri lendo as histórias do Dom Camilo, do Guareschi. Atravessei novamente o Arno e me sentei num canto do Palazzo Vecchio, na esquina da Via dei Gondi. Peguei água com gás na fonte, na mesma calçada, e fumei um dos charutos, na maior tranquilidade, vendo o movimento dos turistas na praça e apreciando o centro do meu mundo. Foi o ponto alto da viagem.
O Arno parece ser a alma de Florença. Corta-a em silêncio, mas é amplo. Há barcos de turismo, com passageiros; há pessoas em canoas. O rio é calmo, mas já engoliu meia cidade na cheia de 1966. Vários edifícios, inclusive a Galleria degli Uffizi, cujos fundos são voltados para o rio, têm uma marca indicando o nível atingido pela água. Vendo o nível habitual do Arno, se nota que foi um aumento de uns oito metros.
E falando na Galleria degli Uffizi, passei por lá também. Continua bela. Antigo centro administrativo da Florença dos Médici, hoje abriga uma pinacoteca que está entre as primeiras do mundo. Penso no quanto de intriga e politicagem não aconteceu naqueles corredores hoje cheios de pinturas e esculturas.
Sentei-me para descansar enquanto visitava a Galleria; de cabeça baixa, pois estava calor e eu estava muito cansado, sinto uma impressão esquisita. Levanto os olhos e dou de cara com o retrato de Felipe II, I de Portugal. De cara. Felipe, sisudo, pendurado quase junto ao teto, me recriminava algo, ou me dava algum conselho, mas não entendi. Pedi desculpas e abaixei novamente a cabeça, submisso e cansado.
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Deixando Florença por Pádua, na beira da linha do trem, ainda perto da estação de Santa Maria Novella, vi uma estátua do mascote da Copa de 1990, que foi na Itália, largada no canto do quintal de um galpão, mas bem conservada e pintada. Bonito não dá para dizer que fosse, pois o Ciao, nome do bendito, disputa com o Naranjito, mascote da Copa de 1982, o título de mascote mais feio. A laranja noiada versus o boneco de palito feito com cubos de lego.
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Pádua eu não tinha conhecido da outra vez. A Cappella degli Scrovegni, decorada pelo Giotto, é algo que realmente tira o fôlego pela beleza e pela inovação que representou na arte pictórica de então, no século XIII, prenunciando os artistas do Renascimento. Mais bela que a Sistina e mais fácil de visitar, a capela tem um sistema de iluminação moderno, que se ajusta à luz externa e a complementa, permitindo a apreciação plena dos detalhes. Ao se visitá-la, se tem acesso ao Museu Cívico, que tem uma pinacoteca cheia de obras do Renascimento até o século XVIII e uma parte de arqueologia, com peças itálicas, etruscas e romanas. O museu não é muito cheio e a visitação, tranquila, havendo tempo para a apreciação mais detalhada, se os seus acompanhantes não forem muito ansiosos.
Há ainda lugares muito bonitos em Pádua, como o Prato della Valle, uma praça circular com estátuas de grandes vultos, e o eixo formado pelas ruas VIII Febbraio e Cavour. A cidade também tem um tipo de elétrico curioso, que anda sobre pneus, mas tem um trilho metálico central, entre as rodas.
Fiquei num apartamento, no Corso Garibaldi, que pode ser comparado a uma mansão, embora fosse no teto do prédio e tivesse, nas bordas, paredes de um metro e meio, com a ventilação feita por postigos largos. Na sala havia duas estantes altas, com uma biblioteca pequena, mas variada, e uma mesa linda, o que daria escritório excelente; eu passaria ali dias com os meus nadas. Na estada breve em Pádua consegui ler La famiglia De-Tappetti, de Gandolin, em edição dos anos cinquenta tirada da biblioteca do apartamento. É uma sátira, retratando a família de um funcionário público romano pobretão, mas que se dá ares; a vida da família é de uma desordem absoluta. A narrativa, divertida e cheia de trocadilhos, me lembrou muito A família Agulha, de Luís Guimarães Júnior.
Pádua é também a cidade de Santo Antônio, coincidentemente um dos nossos “santos juninos”. Abri mão de ir ver as relíquias, língua e outras partes secas do pobre santo, que me dão má impressão. Contentei-me com o dedo médio de Galileu, seco, que já tinha visto no museu que leva seu nome em Florença.
Embora haja turistas em Pádua, são bem menos que em Roma e em Florença. Muitos ingleses e americanos; os indianos das quinquilharias aqui são substituídos pelos africanos. Ouve-se mais italiano, embora no sotaque esticado e sem consoantes duplas do Vêneto.
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No aguardo pelo voo de volta, fiquei em Fiumicino, cidadezinha litorânea do lado de Roma onde fica o aeroporto. Nada de prédios gigantescos, mas pequenas construções, de três, no máximo quatro andares. O Tirreno, ali, parece um lago agitado apenas pelo vento. A vida litorânea se parece muito com a nossa, mas sem o atulhamento e a encheção de saco de vendedores. Pessoas indo ao mar, andando de bicicleta ou caminhando no final da tarde. Poucos turistas estrangeiros: vi um casal de chineses dentro de um restaurante e, no supermercado, encontrei uma família de língua eslava. É possível que, para agosto, o ponto alto do verão italiano, o cenário mude completamente.
Trouxe alguns livros; não muita coisa, porque já ando atulhado. na verdade, três dicionários vênetos, sendo um normal, um de expressões e outro que se autodenomina insultário, ou seja, um dicionário de insultos, arte na qual os vênetos se esmeram e em que é difícil batê-los, embora os poucos diálogos travados em Pádua me tenham dado a impressão de um povo muito solícito e cordato.
Impressão geral: o italiano fuma muito, como nós nos anos oitenta. O cheiro de cigarro é onipresente e ninguém esboça a menor careta, ninguém reclama. Das quatro hospedagens em que estive, em apenas uma não se permitia fumar dentro, mas nesta havia uma sacada na qual era permitido, com mesinha, cadeira e cinzeiro.
Dez dias de vida estrangeira me consumiram violentamente. Avião é um lugar insuportável, tanto pelo aperto como pelos outros passageiros, embora esta última questão se trate mais de azar do que de algo endêmico. A presença de gente chata é uma roleta russa. Tomamos ainda duas furadas de filas: de um casal francês, na fila dos Museus Vaticanos, e de um senhor britânico, na fila para despachar a bagagem para o voo de volta.
Estou de volta.
Bitucas
Adapto do vêneto: caga-dúvidas, o indivíduo paranoico ou hesitante.
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Tentativa de golpe na Bolívia por um general meio gordo. Certeza que confundiu o palácio presidencial com a geladeira.
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Terceira idade: Weltanschauung rígido e pau mole.
O melhor da cidade
Estando de passagem por ***, no Médio Tietê, uma cidadezinha de 10 mil habitantes, fui vitimado por uma dor de dente terrível. O maxilar inferior esquerdo pulsava; era quase impossível saber qual dente doía. Saí desesperado da casa onde estava hospedado e dei de cara com um boteco.
— Pelo amor de Deus, onde tem um dentista?
O homem do bar me indicou uma casa no fim da rua; disse que era o melhor dentista da cidade. Uma tabuleta tosca dizia, de fato, “dentista”. Bati palmas. Saiu um homem de bermuda e chinelo de dedo.
— O dentista, por favor?
— Pode entrar. O doutor já vem.
Sentei-me. A dor não me impediu de ver que eu estava em um muquifo, mas me impediu de sair correndo. Dali a pouco, o mesmo elemento que tinha atendido a porta apareceu com uma máscara cirúrgica e luvas de lavar louça. Dei um pulo pra trás.
— Mas o que é isso?!
— Senta aí; o dentista sou eu.
O meu dentista, de bermuda e chinelo de dedo, meio sujo, tinha uma dentição impecável.
— Mas o senhor é dentista?
— Sou.
Não havia diploma nenhum na parede, como costuma ser nos consultórios que conheço.
— E o senhor é formado onde?
— Primário de ***, até a quarta série. Gosto de dentes e tudo que tem relação com eles. Dentista… dentifrício… dentadura… roda dentada, fio-dental, dente-de-leão…
— O senhor é doido!
— Mas eu sou o melhor dentista da cidade! Ou melhor: o único!
Virei as costas e caminhei em direção a porta; o tal dentista me pegou pelo braço.
— Me larga!
— Não!
Empurrei-o. Ele voltou e se jogou sobre mim; era a primeira vez que me metia em briga desde o primeiro grau. Tentei me desvencilhar do cara, mas ele era implacável, os socos zuniam no ar, até que ele conseguiu me derrubar e me imobilizar.
— Agora fica parado! Vai doer um pouquinho .
O soco desceu quente no lado esquerdo. O dentista saiu de cima de mim; ergui-me com a boca cheia de sangue. Algo solto: cuspi dois dentes. Ia partir pra cima do elemento quando percebi que a dor havia passado. Ele me estendeu um copinho.
— Toma. Faz um bochecho.
— O que é?
— Água, sal e vinagre.
— Quanto lhe devo?
— Nada. A primeira vez é por conta da casa.
(2017, editado)
Belo relato de viagem, caro. Obrigado por compartilhar.
O segundo parágrafo me lembrou Dante misturado com H. Eco, era tanta descrição dos povos que eu já não lembrava de quem estava falando exato, era sobre venezianos, sardos, romanos, sabia que não era sobre os italianos hahahahaha