Cinzeiro de Latão 3
Hinologia / Já não tinha morrido? / Várias / Apreciação da feiura / Mais apreciação da feiura / Vendedores de merda / O funeral da tia Herta (conto)
Hinologia
Andando pelo campo no último dia de 2023, coloquei música para ouvir no celular. Das minhas playlists caóticas vieram os acordes de Die stem van Suid-Afrika, hino lindo, mas que ficou manchado por ter sido o símbolo sonoro da África do Sul durante o Apartheid. Sim, um hino nacional. Desde o advento da internet na minha vida, é algo a que me dedico: ouvir, conhecer e reconhecer hinos nacionais. A música de Die stem é gloriosa, e a letra do poema em africâner, embora tenha os lugares comuns de exaltação à pátria, é muito feliz em vários pontos, contando inclusive com trechos em que há aliterações muito interessantes:
By die klink van huw’liks-klokkies, / By die kluit-klap op die kis [...]
(No tinir dos sinos de casamento, / na descida do caixão à cova [...]; vão me perdoar a literalidade).
Palmas a C. J. Langenhoven, que, dizem, era bom escritor. Não conheço africâner o suficiente para tirar a prova.
Na minha experiência de ouvinte, os hinos nacionais poderiam ser divididos em dois tipos, musicalmente falando: os oracionais, que, de alguma maneira, lembram cânticos (Die stem van Suid-Afrika, Kde domov můj [Tchéquia], Wilhelmus [Países Baixos], God save the King [Reino Unido], sendo que este último tem forma oracional inclusive na letra, Schweizerpsalm [Suíça], também com forma e conteúdo de plegária), e os revolucionários, tradução inaugurada com a Marselhesa e seguida por toda a América Latina, com um quê operístico (basta ouvir os hinos da Argentina, do Uruguai e do Paraguai, que parecem tirados de óperas). De fato, apenas para ilustração, a música do hino argentino era, originalmente, a parte final da peça de teatro El 25 de Mayo, de Luis Ambrosio Mirante.
Os oracionais parecem ser mais típicos de nações protestantes ou germânicas; nações latinas, mediterrâneas, árabes e as ex-colônias americanas preferiram o tipo revolucionário; as ex-colônias influenciadas pelo momento histórico da sua independência.
Já não tinha morrido?
Volta e meia sou surpreendido pela segunda morte de alguém. Já me explico: há gente que morre, mas que, estando muito fora do circuito — ou do meu radar —, eu já havia matado na memória. Por esses dias foi-se o Campos Machado, ex-deputado estadual paulista que eu julgava morto havia mais de uma década. Uma surpresa. Kissinger, morto no ano passado, foi outra surpresa. Que cansaço essa turma que tarda tanto em morrer.
Várias
Os nobres, essa gente que vive de rendas no bolso e nos punhos.
Quando alguém que sempre usou barba de repente a raspa, a ausência dos pelos faciais causa estranhamento a quem convive com a pessoa. É o chamado efeito Eneias.
O efeito da bossa nova sobre a música nacional equivale ao derrame que deixa o cara puxando da perna e rindo torto o resto da vida.
Apreciação da feiura
Passando uns dias na casa paterna por conta do Natal, acabei assistindo aos canais comunitários da parabólica, cuja programação resume-se a programas mal produzidos e frequentados por gente em cujos predicados não figura a beleza. Um desses programas, musical, era apresentado por um indivíduo que era a versão do Zeca Urubu com esteroides. Havia ainda duas dançarinas, meio gorduchas, que quase não cabiam na roupa vermelho-brilhosa, horrenda, uma espécie de maiô com mangas e decote até o umbigo, que deixava as bochechas das nalgas à mostra. Como se não bastassem os passos de dança esquisitos que as duas executavam, ou tentavam executar, equilibrando-se nos saltos altos. Os convidados não ficavam atrás: cantores com cara de dono de boteco, de açougueiro, que tinham dicção ruim, interpretando uma música pior que a outra, peças (?) que oscilavam entre o sertanejo (temática do programa, inclusive) e o piseiro, conseguindo piorar o horrendo. Um espetáculo.
O cenário era uma lona plotada, apoteose confusa do logo do programa sobre uma colagem de fotos com efeito de brilho, que mais parecia o painel feito para uma festa de debutante em Guaianases; de vez em quando, a brisa ou uma pirueta mais ousada das bailarinas fazia a lona oscilar.
Esse tipo de precariedade involuntária, de porquice acidental, me atrai de maneira quase patológica. Fiquei vendo o programa pela hora inteira que ele durou, apesar dos protestos do meu pai.
E a atração ainda tinha um patrocinador: alguém teve coragem de pôr uma grana ali. O Zeca Urubu com cara de bicheiro veio para o lado do “cenário” umas duas vezes e mostrou uma mesinha cheia de embalagens de uma marca de petisco, ressaltando predicados que os produtos, em exame breve, certamente não tinham. Ímpar.
Mais apreciação da feiura
Na antevéspera de Natal, aproveitei a manhã e fui caminhar. Saí para um passeio singelo e acabei esticando até um parque, o que me rendeu quase nove quilômetros entre ida e volta.
Peguei as ruas do fundo de casa, sentido leste. Parte desse caminho, que há trinta anos era uma trilha sem asfalto no meio do matagal, hoje é uma rua comum de subúrbio, com aquelas construções que já nascem caindo aos pedaços. A rua é sinuosa (o que certamente contribui para a minha impressão de que ela tenha sido uma trilha) e bordeja uma favela pequena; no tamanho, claro, pois a feiura é imensa. Na mesma rua há também alguns prédios de classe média, de uma feiura diferente, institucional, que quer ser beleza.
No ângulo obtuso de uma curva, ainda no começo da via, há um depósito de material de construção cujas paredes externas estão ornadas com desenhos feios dos itens à venda. Sob o nome do estabelecimento, malpintado, um slogan: “Ajudando a construir sonhos”. Dali cem metros, ergue-se a já citada favelinha, deixando nítido o pesadelo que pode ser feito com material de construção; tudo é feio, cru e disforme.
Justamente nesse trecho, há uma porta de garagem em que estão representados duas mulheres e um narguile desproporcionalmente grande, pois é maior que as mulheres, que nele fumam. O desenho, como no caso do depósito de material de construção, é horrendo. O mais curioso, porém, é que a mulher retratada à esquerda do narguile é a Princesa Jasmine, do Aladdin da Disney; só que usando óculos escuros. A princesa chavosa e narguileira.
Mais ou menos na mesma altura da rua e sobre ela, atravessando-a, há uma faixa pendurada entre dois postes, cujo conteúdo consegui ler apenas na volta: “Abaixo a meritocracia dentro do sistema prisional”, letras brancas sobre fundo preto e sem assinatura. Imagino que seja serviço de alguma facção criminosa. Fiquei me perguntando se alguém da turma que estava nos três ou quatro botecos à vista da faixa, naquele momento, saberia me dizer o que significa meritocracia. Non ragioniam di lor…
Atravessando umas ruas melhores, com comércio razoável, casas boas e até mesmo prostitutas — sinal de prosperidade material —, cheguei ao Parque do Carmo. Bonito, relativamente bem cuidado. Morei 25 anos ali e nunca o tinha frequentado. Um retorno futuro, porém, é muito improvável.
Vendedores de merda
Quando eu terminava o ensino médio, transitava, aplacando tédio e ócio, por regiões complicadas, hoje intransitáveis. Uma das áreas era a rua São Caetano e a parte mais ao leste da estação da Luz. Para o leitor que não é de São Paulo, a São Caetano era (não sei se mantém o título) a rua das Noivas, com alta concentração de lojas especializadas em vestidos para casamento. A região da Luz, apesar de deteriorada, abriga a estação, obra-prima de quando São Paulo começou a tomar ares de cidade (perdendo-os depois), e a Pinacoteca do Estado. Ali perto, tenho quase certeza, havia algum laboratório de epidemiologia, ao qual levei um percevejo fitófago que encontrei no jardim de casa e pensei ser um barbeiro.
Sobre o que ainda é a avenida Prestes Maia, pois ela muda de nome para Tiradentes a uns metros dali, existe uma passarela que liga o lado da São Caetano à área da Luz propriamente dita. Embora a estrutura se chame Passarela Rua das Noivas, está deslocada duas quadras a sul da rua São Caetano, ligando, na verdade, os dois trechos da rua Mauá, cujas pensões, dali uns anos, fervilhariam com os folguedos intermináveis e ruidosos dos ciganos romenos, que se foram como vieram.
No acesso dessa passarela, do lado da Luz, houve, durante um período específico, talvez dois ou três meses em 1999 ou começo de 2000, um mercado informal de merda falsa. Já me explico: eram imitações bem realistas de excremento humano, feitas de serragem endurecida e em forma de montinho. Havia vários vendedores, dez, quinze, não sei bem, com seus tabuleiros cheios de bosta de serragem e o cartaz com o preço.
Não custavam muito, pois logo abandonaram uma na gaveta da mesa que eu usava no meu primeiro emprego, mas o que chamava a atenção era a concentração de vendedores daquele tipo de objeto num espaço tão pequeno. Se alguém quisesse, sei lá, espanadores, brinquedos chineses, que esquecesse, pois não havia. A única coisa que existia naquele trecho de calçada eram várias barraquinhas vendendo a mesma merda; até os vendedores eram parecidos. Eu e um colega de escola levantamos algumas hipóteses: a primeira era a de que todos os camelôs eram aparentados; a segunda, a de que a fábrica estava ali nas proximidades (talvez num cortiço da Mauá) e era um negócio familiar. Todos os quinze vendedores dormiam num quartinho, enquanto o patriarca do clã produzia as merdas com base em protótipos, que seriam de merda real. Nunca conseguimos descobrir nada.
Passamos uns meses sem ir para aquele lado e, quando finalmente fomos, o mercado de merda não existia mais. O comércio, porém, tinha se espalhado pela cidade: vendiam merda na feira de sexta, perto de casa. O vendedor, que tive a oportunidade de ver algumas vezes, se parecia com seus colegas da passarela da Rua das Noivas. Será que tinham dividido o negócio por alguma briga e cada um foi para um lugar, espalhando merda para todo o lado? Jamais saberemos.
O funeral da tia Herta
Por sorte, Breno, um dos tantos sobrinhos, estava na casa quando a tia Herta teve um ataque cardíaco e caiu no meio da sala. Sorte, porque ela vivia sozinha e recebia visitas muito raramente; se Breno não estivesse lá, tomando café, tia Herta, insepulta, ficaria sabe-se lá quanto tempo à mercê das forças desagregadoras da natureza que agem sobre a matéria orgânica que se torna inanimada.
Breno disse que a tia Herta morreu de repente, na sua frente, quando lhe trazia uma fatia de pudim, “caindo com a leveza de um pardal a quem a vida abandonou de chofre”. Sim, Breno usou “de chofre” porque era pedante e metido a poeta, embora a sonoridade da locução lembre o barulho de alguém lixando uma janela de aço. Mesmo com os fumos poéticos, Breno não conseguiu evitar que os primos rissem dele na delegacia, porque era impossível que uma senhora de oito arrobas caísse “com a leveza de um pardal”. Até o escrivão riu.
De qualquer maneira, coube a Breno, que havia sido testemunha ocular da queda do pardal, arrumar as coisas para o enterro. Tia Herta não deixou nenhum tipo de disposição sobre como queria o seu funeral, então o sobrinho pensou em não gastar muito. Breno acabou indo parar em uma funerária por recomendação enfática de um amigo que tinha enterrado entes queridos recentemente.
Mal entrou e foi recebido por um homem alto e largo, moreno; algo havia nele de meio indígena. Com paciência infinita e cara compungida, o homem foi mostrando a Breno os vários caixões: todo tipo de madeira, todo tipo de forro, detalhes metálicos. Havia mesmo uns pacotes incluindo caixão, aluguel de pedestais para coroa de flores e círios. Breno pensou no quão cara poderia ser a burocracia da morte, como se não bastasse a inconveniência de perder a vida.
Percebendo o desânimo de Breno, Aristeu, o agente funerário meio índio e muito experiente no mister, chamou o jovem de canto.
— Veja, Breno, às vezes esse tipo de despesa pode parecer absurdo e desnecessário…
Breno preparou-se para algum tipo de sermão sobre entes queridos para justificar pagar uma exorbitância num caixão que, no fim das contas, era apenas a casquinha do bombom que a terra ia comer; o recheio do bombom era a tia Herta. As analogias que surgem nesses momentos são quase sempre desse tipo. Aristeu prosseguiu:
— …essa despesa pode parecer absurda e desnecessária. E é.
Breno arregalou os olhos para Aristeu, que o convidou com a mão para passar por uma porta que dava para o fundo do estabelecimento. Caminharam por um corredor estreito até que o ambiente perdeu a atmosfera carregada de luto e o cheiro de comida foi ficando mais forte. Chegaram ao que lembrava a cozinha de um restaurante, com freezers e fogões industriais, além de fornos. Havia panelões borbulhantes e o cheiro da comida era delicioso.
Aristeu pousou a mão sobre o ombro de Breno.
— Percebo que você é um homem de cultura; vamos conversar no meu escritório?
O escritório de Aristeu, um cômodo apertado com arquivos, era um anexo daquela cozinha. O cheiro de comida boa dominava tudo.
— Meu caro Breno, vejo em você um espírito imenso, um coração muito grande… o que eu tenho a lhe oferecer está longe daqueles caixões tenebrosos e, convenhamos, muito caros, reconheço. Primeiro, preciso perguntar se você está aberto a novas ideias.
Aristeu já tinha fisgado Breno: afagou-lhe o ego que exibia pelo seu verniz cultural e agora o desafiava; caiu mais fácil que a tia Herta fulminada pelo infarto.
— Pode falar, Aristeu. Sou todo ouvidos.
E nisso Breno, sentado numa poltrona puída, cruzou as mãos sobre a barriga, fazendo cara de quem é mais pretensão que cérebro. Aristeu começou a falar.
— Você sabe, Breno, que os ritos funerários vêm de longe. É uma das coisas que marcaram o início da civilização: primeiro, os enterros cerimoniais, depois a agricultura e as cidades. Talvez tudo ao mesmo tempo. São rituais que mostravam o respeito para com o sagrado: o fim da vida era tão enigmático quanto o começo para aqueles homens rudes, caçadores-coletores da Anatólia e da Mesopotâmia. Era preparar o finado para a vida após a morte. Hoje, sabemos como a vida começa e o que causa o seu fim…
Havia um crucifixo pendurado na parede do fundo do escritório. Aristeu parou um instante e voltou-se para o crucifixo.
— Acredita em Deus, Breno?
— Não, Aristeu; sou ateu.
Aristeu levantou-se e tirou o crucifixo da parede.
— Deixo-o aí em respeito à maioria dos meus clientes, que, às vezes, o luto torna improvisadamente cristãos, mesmo que nunca o tenham sido.
— Entendo.
— Onde estávamos? Ah, sim. Hoje é claro que a vida e o seu fim são eventos aleatórios, longe de qualquer divindade. Por que, então, gastar uma fortuna com um funeral? É dar dinheiro para a terra comer… sabe, Breno, descendo de povos tapuias do Nordeste do país… tapuias porque não falavam tupi… os meus antepassados ajudaram os holandeses em vários momentos da invasão que eles promoveram na costa do Nordeste, no século XVII…
Breno apenas escutava Aristeu e nem se lembrava mais da tia Herta, que estava fechadinha num saco, dentro da geladeira da morgue. Aristeu, nessa pausa, tirou da gaveta da escrivaninha sebenta um livro de capa verde e branca, já bem manuseado e com as laterais encardidas. Abriu numa página já marcada. Leu por alguns instantes e resumiu a leitura:
— Zacharias Wagener, que era saxão e esteve entre os holandeses que invadiram o Brasil, faz uma descrição fantástica sobre como os tapuias tratavam seus mortos. Quando morria um deles, não o sepultavam, como é uso na civilização judaico-cristã, mas o cortavam em pedacinhos, que comiam crus e assados. Diziam que seu ente querido ficaria mais bem guardado dentro do corpo de um igual do que dissolvido e perdido para a terra; os ossos, que não é possível comer, eram cremados e reduzidos a pó, para depois serem agregados a outros alimentos.
Breno caiu do bem-estar que sentia.
— Pera… você não está sugerindo que a gente coma a tia Herta?
Aristeu fechou o livro e a cara.
— Breno, Breno… achei que você fosse mais aberto…
— Mas isso é canibalismo! E outra: quem faz isso ainda?
— Minha empresa faz, Breno. Basta o cliente querer.
— É um absurdo.
— Breno, absurdo é abrir mão de nutrientes importantes cuja decomposição vai contaminar a terra. Um corpo serve como alimento, fornecendo os nutrientes de que está composto e você ainda ajuda o planeta, impedindo que ele se torne poluente na terra. — Aristeu pôs-se de pé por detrás da mesa, ameaçador; de repente, tinha ficado ainda maior e mais alto — Não é sustentável? Não é ecologicamente correto?
Breno sentiu-se encolher na poltrona; Aristeu parecia dominar toda a sala pequena, como uma divindade indígena feroz, poderosa e envolvida em nuvens, um Júpiter tapuia, com raios nas mãos e nuvens nos pés.
— Além do mais, Breno, é parte da nossa herança cultural.
Breno Schwarzkopf, neto de bávaros, concordou.
— Tem razão, Aristeu.
Aristeu de súbito voltou à casca de vendedor de caixões.
— Aqui tem um menu… um catálogo das receitas que podemos fazer. Um corpo serve até umas quinze pessoas; no caso da tia Herta, até vinte. Podem ser feitos vários pratos: iscas de fígado, bifes, carpaccio, que é feito da carne da coxa… também podem ser feitos embutidos, como salame ou presunto cru, mas o processo é mais demorado. Temos aqui cozinheiros muito bons, que são meus irmãos, inclusive. Antes do banquete cerimonial, celebramos os feitos do morto, e, querendo, cada parente fala algo. Durante o banquete, podemos servir vinho, que fica por conta da família, mas também podemos fornecer, por conta da casa, fermentado de caju, que é pisado pelos pés das minhas irmãs, no estilo tapuia. Depois, cremamos os ossos e cada um dos presentes leva um potinho com as cinzas condimentadas com canela e cebola desidratada. Pode ser com pimenta também, que é mais o meu gosto, inclusive.
— E quanto sai, Aristeu?
— Metade do valor do caixão mais barato, mas 10% do peso do morto é comissão da casa.
— Fechado.
Não foi muito difícil vencer a resistência dos parentes: o valor convidativo, o vislumbre da comida e os benefícios para o planeta convenceram todos. Aristeu ainda fez de sacerdote tapuia, o que encantou os parentes da tia Herta, e também de maître.
Adorei a história dos vendedores de merda 🤣